O regresso do deserto

Acordamos com o nascer do sol, e cada um a seu modo guarda na sua memoria os momentos ali passados, a alguns não apetece partir já, mas há que cumprir o que está determinado, por isso preparamos os nossos dromedários para o regresso, aguarda-nos um almoço em casa de uma família típica do deserto, onde vamos degustar pizzas berberes, para além do convívio que nos é proporcionado. Antes do esperado almoço, houve tempo ainda para tomar um reforçado pequeno-almoço, e tempo também para alguns tomarem um banho na piscina do hotel, e descansar um pouco.
Uma visita a uma cooperativa local depois do almoço, onde nos foram mostrados alguns trabalhos de tapeçaria daquela região, aproveitando nós, a oportunidade para gastar mais uns quantos dirhams. Durante a tarde a maior parte do grupo aproveitou para relaxar.

Partida de Merzouga

De manhã bem cedo, saímos em direcção às Gargantas do Todra, com o tempo suficiente para fazer mais algumas compras e almoçar.
O destino seguinte é Ait-Ben-Haddou onde iríamos pernoitar.
Ait-Ben-Haddou é um exótico Ksar, e fica a cerca de 30 km de Ouarazate. O Ksar é um habitat pré-Sahariano tradicional e consiste num grupo de edifícios de terra rodeados por paredes altas. É um local já descoberto pela Unesco, por realizadores de cinema, historiadores, poetas, etc., pelo seu encanto medieval e também pela sua energia tão peculiar.
Sentimos o calor do Pôr-do-Sol no ponto mais alto deste local, em dia de Lua Nova, aproveitamos para fazer pedidos por escrito, que seriam mais tarde queimados. Partilhar com o grupo a experiência vivida no deserto, foi o que alguns fizeram, antes de dormir, espera-nos mais uma viagem, com partida bem cedo.

VIAGEM AO DESERTO DOS SONHOS

24 de Março foi um dia especial para muitos de nós, ali à distância de pouco mais de duas horas, estava a principal razão desta viagem.

Levados por dromedários através de dunas imensas e enquadradas por uma luz quente e dourada, percorremos o caminho, que nos convidava à descoberta do nosso Eu e também da nossa Paz. É num quase silêncio e serenidade que os guias nos levariam ao encontro da tranquilidade, é como se um vazio se instalasse dentro de nós, como que uma preparação para a mudança. As emoções são sentidas de maneiras diferentes, não há como esconde-las, estávamos a viver um acontecimento único, mesmo aqueles que já tinham estado ali em outras ocasiões, não as deixaram de sentir. Cada um foi descobrindo o que de mais profundo há em si, pleno de sensações e imagens, e foi partilhando com quem por perto estava, por vezes sem ser necessário pronunciar uma palavra.

O momento de chegar ao local do acampamento, o deixar as mochilas, subir à duna, tão difícil para alguns, com o intuito de ver o Pôr-do-Sol. Sentir a alegria por estar ali presente, naquele sitio único, com aquela luz, com os pés em cima de uma areia finíssima e de cor dourada, o poder receber nas mãos o calor dos raios do Sol que nos transmitiam leveza e muito amor, uma autentica fusão entre o Eu e o Todo.

Saborear uma comida que nos foi preparada por seres que estiveram sempre tão disponíveis, fazendo-nos sentir que estávamos entre irmãos amigos, e sempre com uma coisa para partilhar connosco; o sorriso e a boa disposição, é maravilhoso sentir aquela energia.

O ritual da Espiral de Fogo, era um momento aguardo com alguma expectativa, onde cada um a seu tempo teve oportunidade de viver e sentir emoções de uma forma mais profunda e mais intima, que seguramente recordará por muito tempo.

É difícil esquecer os momentos que naquele local foram vividos, porque ali de facto houve momentos de mudança, liberdade, transformação, descoberta, acontecimento, momentos ainda de gratidão, não esquecendo a companhia de uma borboleta que nos acompanhou em alguns momentos no caminho, e ainda as visitas efectuadas já noite, bastou estar atento.

No coração de alguns ficará a certeza de que, …é tempo de viver dias mais felizes.

EM KHAMLIA com Os Berberes Negros

Khamlia é uma pequena aldeia a cerca de 7 km de Merzouga.

Aqui neste lugar, os Berberes Negros aguardam-nos carinhosamente, e mostram-nos que a felicidade é bem mais simples do que imaginávamos.

Com o sorriso inocente das crianças que se abeiram de nós e que connosco convivem, ficamos de coração cheio.

Os pensamentos só podem vir do coração.

Encontramos aqui um grupo cultural de seu nome Gnaoua, que com a sua música ritualizada e misteriosa nos convida a participar de uma forma activa nos sons que são produzidos pelos seus instrumentos.

Deu para perceber que, enquanto lá estivemos eles sentiram-se felizes por nós. Nós, sentimos que há anos que somos amigos.

Por aqui, a vida é serena e pacífica.

MERZOUGA

Merzouga é uma pequena aldeia Berbere, situada no deserto do Saara a cerca de 4 kms de Erfoud, e cerca de 20 kms de distância da fronteira com Argélia.
A aldeia de Merzouga é ainda conhecida por estar situada nas dunas de Erg Chebbi, e divide-se em três partes: zona das dunas, centro da aldeia, e a parte nova, a norte do rio.
À volta das dunas existem ainda outras aldeias menos conhecidas como: Hassilabied, Tanamoust, Takoujt, Khamlia, e Tisserdmine.

Chegamos a Merzouga já com o pensamento no deserto, isso sentia-se em algumas conversas entre as pessoas do grupo, o que levou algumas mesmo a decidir dormir ao relento, nos terraços do hotel.
Depois do jantar somos convidados a conviver numa autêntica festa, com naturais berberes, com as suas danças e música tradicionais, que nos fazem sentir entre amigos. Sinto pela primeira vez uma forte união de todo o grupo, as caras das pessoas começam a estar mais focadas na minha mente, alguém me diz quando comigo se cruza, qualquer coisa como: …sinto que sempre te conheci….

Durante a noite fico a pensar naquelas palavras.

AZROU - Floresta dos Cedros

Em AZROU, aprazível cidade do Médio Atlas, entramos na Floresta dos Cedros, não sem antes, o João falar um pouco sobre as possiveis emoções que poderiamos sentir.

É um momento aguardado com uma certa ansiedade, outros peregrinos em outras ocasiões que por aqui passaram, tinham-nos dito, que é costume aqui dar-se a primeira catarse da viagem.
A serenidade destas árvores com séculos de existência, é como a preparação para aquilo que virá a seguir, é se quiserem como um convite a deixarmos aqui todas as programações que ainda estão presentes em nós. Algumas fotografias mostram, alguns de nós na procura de um local onde possa estar num momento de mais introspecção.
Foi-nos dito que iríamos parar aqui neste local para sentir a natureza, para abraçar uma árvore e quem sabe ver uma Fada.
Nesta mescla de cores que foram surgindo a todo o momento, sentiu-se a natureza, quem quis abraçou uma árvore, e até há quem tenha sentido a presença das Fadas.
Foi só preciso estar disponível e atento.
A densa Floresta dos Cedros esconde paisagens de sonho, rios e ribeiras de águas límpidas e geladas, excelentes nascentes... soube a pouco o tempo que lá estivemos.
A nossa peregrinação começou realmente na Floresta dos Cedros.

IFRANE

Ifrane, também chamada a “Suiça Marroquina”, é uma cidade que foi desenvolvida pelos franceses. É uma cidade com uma estação de esqui no meio do Atlas, e que tem um aspecto notavelmente próximo do europeu, tipo aldeia alpina. Devido à sua elevação, a cidade tem neve durante os meses de Inverno, e um clima fresco durante o Verão. Possui bosques semelhantes a outros que existem na Europa cheios de energia. Os animais, como macacos, ursos, tigre-da-neve, alces e raposas, habitam em perfeita harmonia. A palavra Ifrane significa, uma caverna numa das línguas berberes. Infelizmente para nós, só deu para dar um pequeno passeio à noite depois do jantar nas redondezas do hotel.

IFRANE

FEZ

Chegamos a Fez, e sentimos um outro pulsar, um ritmo mais acelerado. Passeamos na Medina desta cidade imperial e circulamos entre pessoas, crianças em pequenas ruelas, onde até os burros circulam. Muitos dos cheiros e das cores misturam-se de uma forma harmoniosa entre gentes tranquilas.

É obrigatório parar numa farmácia, onde nos é ministrada quase uma aula de botânica, aula essa que depressa se transforma sobretudo em bem estar, como se tivéssemos estado sempre aqui, entre amigos. De volta aos carros, para uma nova etapa, ainda temos tempo para olhar os seus barros azuis e os pratos de cobre, estamos na principal capital de artesanato de Marrocos.

Vi uma entrevista na semana passada, dos U2 a um jornalista português nesta cidade, quando deram ali um concerto, onde o Bono dizia a esse jornalista mais ou menos isto: - "... por aqui existe magia quando nos atrevemos a estar à conversa com os naturais ..."

FEZ

CHEFCHAUOEN

Chegar a Chefchauoen, e ser recebido com aquela luz única, é algo dificil de explicar em palavras, é preciso estar lá e sentir. O azul tipico (unico digo eu), é tão profundo que queremos sempre voltar, é magico. Foi sem duvida um excelente acolhimento que a Primavera nos fez.

CHEFCHAUOEN

Diário de Bordo - Notas do deserto

"Deus criou o mar e a água para que o homem pudesse viver, e criou o deserto para que o homem pudesse descobrir a sua alma."

Quando há cerca de um ano, o João Pires me falou que ia a Marrocos com o Luís Baião, não tive a menor duvida, de que tinha chegado a minha vez de ir à descoberta naquele país de um outro caminho.

Notas do meu diário de bordo durante o tempo no deserto:

Qual o propósito deste grupo ir ao deserto?

A resposta foi chegando aos poucos, a primeira cerca de uma hora e meia depois da nossa entrada no deserto, seguiu-se uma outra quando chegámos ao acampamento, e na subida à duna já com muita dificuldade (um agradecimento ao Vitor)....vós vindes aqui em peregrinação, com o objectivo de receberem uma mensagem, sobre alguns ensinamentos fundamentais para uma nova vibração no Universo. Ensinamentos esses que devem ser passados a outros seres ... (todos os seres).

A parte final da mensagem, só a recebi já durante a madrugada, após ter avistado a quarta de cinco estrelas cadentes, foi dos momentos mais exaltantes que vivi no deserto.
Tinha decidido que não iria dormir, a minha ideia era estar tão atento quanto possível ao que poderia passar-se ali, queria contemplar tudo o que estava em meu redor, foi muito bom sentir a energia que ali estava, era uma energia de muita Paz e Amor (se bem com muitas emoções à mistura), fruto seguramente do suporte da espiral de fogo que feita momentos antes, percebi mais tarde essa energia poderosa, quando o João e a Yasmin falaram da presença dos arcanjos, eu que raramente sinto a presença de arcanjos, apercebi-me da presença do arcanjo Miguel, que aliás, nunca mais deixou de estar presente em mim.
Eu estava ali com uma função de mensageiro, aquele que recebia e transportava as mensagens que chegavam e as entregava aos outros peregrinos.

Na mensagem final vinham os ensinamentos: - ...alguns de vós vão receber, ao longo dos próximos três anos (até 12 de Dezembro de 2012), ensinamentos que assentam sobretudo em - Amor, Compaixão, Solidariedade, Atenção, entre outros. Estes ensinamentos irão permitir-vos passar outros valores a todos os seres, com maior ênfase nos humanos, valores mais nobres, para que possam, quer a nível individual quer colectivamente, emergirem, serem compreendidos e experienciados em uma nova estrutura. O espírito de pertença a um grupo, família, país, homem ou mulher, deve dar lugar à cooperação e à partilha...

Com estas pessoas! E porquê estar mais perto de umas do que outras?

Senti que algumas pessoas neste grupo, sempre fizeram parte da minha vida, ou porque comigo estiveram há milhões de anos em combates, resgatando Luz, como irmãos e guerreiros de Luz, e isto fez muito sentido entre mim e o Vitor. Outras pessoas, senti que já estivemos ali por aquelas bandas. E outras ainda percebi que estão ou vão estar empenhadas em desenvolver projectos comigo, não sei bem o quê, mas sei que vai acontecer. Assim como outros companheiros (as) de caminho, a algumas centenas de kilómetros de distância, não deixaram de marcar presença ali comigo.

Duas mensagens mais chegaram, uma já com o nascer do Sol, e outra durante o caminho de regresso ao hotel; estas mensagens tinham a ver com a minha vida intima, que me escuso aqui de expor. Dou apenas nota destas mensagens, porque ainda há bem pouco tempo numa leitura da aura que me fizeram, apareceram estes mesmos assuntos abordados, simplesmente coincidência (?),obviamente que não.

O que poderia representar tudo isto para mim?

Já lá vai o tempo que estas coisas me bloqueavam deixando-me encabulado, hoje, aos poucos, vou aprendendo a expressar o que sinto.
Comentei com alguns de vós o que aconteceu comigo, quando fizemos a roda de energia no terraço do hotel em Ait-Benhaddou, antes de queimar-mos os nossos papeis com os pedidos, no ritual da Lua Nova, como se devem lembrar, o João Pires fez uma explicação do chacra que estava associado quando estivemos no deserto, eu nesse preciso momento vi novamente uma estrela cadente, entendi esta manifestação como se fosse a confirmação de todas as mensagens que tinha recebido, fiquei com muita serenidade. À parte do deserto foi interessante verificar que quando fizemos o Pôr-do-Sol no local onde foi filmado o Gladiador, em determinada altura ter tido a necessidade de me afastar um pouco do grupo, para o lado direito, por estar a visualizar com emoção naquele momento cenas do filme, uma cena onde os gladiadores treinavam. Curioso que, quando vinhamos na carrinha o Yarik expressou qualquer coisa como: - ...será que vamos recordar-nos de cenas do filme?... À noite no hotel, contei-lhe o sucedido, na memoria que ele tinha, - aquelas cenas passavam-se naquele lado para onde eu me tinha afastado.

Tenho plena consciência que tudo o que eu vivi nos nove dias em que estivemos juntos, é uma dádiva, mas também foi uma oportunidade para a minha aprendizagem.

Ir à procura de mais informação naquele deserto, e acrescentar outras notas ao meu caminho, é como uma missão que sinto que tenho de cumprir, por isso no próximo ano vou voltar, mesmo sabendo que dificilmente irei com toda esta família (isto é um desafio), levarei seguramente uma mensagem de Amor e Gratidão para aquele local, de todos os que ali estivemos na noite de 24 para 25 de Março de 2009.

Um abraço de Luz.

Carlos Fernandes


NOTA: ESTE POST FOI PUBLICADO AQUI PELA 1ª VEZ EM 9 ABRIL 2009